quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Eu quero é ser Amélia




Não raramente vejo uma neofeminista comemorar que, em breve, não precisaremos dos homens nem para nos reproduzir. O que acontece é que não vejo nem um pouco de verdade nessa suposta satisfação. Pra mim isso é coisa de quem se deu mal a vida inteira e, agora, quer provar para si mesma e principalmente pro pai, pra mãe, pras amigas e para os ex que vive, sim, muito bem, sozinha. E até vive, não sei se bem, mas vive. São mulheres de uma geração que cresceu lutando pelas famigeradas igualdades entre gêneros. Mulheres que aprenderam a ser independentes. Mulheres que trabalham 14 horas por dia, e ainda arrumam tempo para a ioga, para fazer compras, para o happy hour com as amigas, para fazer compras, para a aula de francês, para fazer compras, para passear com o afilhado, para fazer compras, para viajar, para fazer compras. Numa tentativa sem fim de preencher todos os espaços deixados pela ausência de um grande amor. É o tipo de mulher que vai ao supermercado trajando um terninho Chanel adquirido na última viagem à Europa, montadas num sapato Prada e sendo carregadas por uma bolsa Louis Vuitton, e se dirigem, automaticamente, à seção de congelados. Enquanto vibra internamente ao saber que já estão vendendo couve cortadinha em saquinhos zip-lock, ela observa uma outra mulher, mais ou menos da sua idade, enchendo o carrinho de iogurtes. Muitos iogurtes, nenhum light. Aliás, não tem nada diet nem light no carrinho da outra. Ao contrário do seu. Ela está grávida. Não deve demorar muito a nascer. Ainda assim ela consegue se abaixar e pegar o filho, de uns três anos, e colocá-lo dentro do carrinho, numa tentativa de fazê-lo parar de chorar. Seu vestidão de feira hippie não é nada sexy. Do alto de seu Prada, a mulher independente sente uma pontada de inveja. Nesse dia, decide sair da dieta e levar um pote de sorvete e uma caixa de bombom. Mora sozinha mesmo. Não terá que dividir com ninguém.


Ela sai com as amigas, conta piadas feministas, mete o pau nos homens, mas acaba se interessando por um deles. Conversa vai, conversa vem, ele a chama de “docinho”, ela acha brega e cai fora, deixando um falso número de telefone. Chega em casa, a lâmpada da sala está queimada. Vai ter que chamar o zelador pela terceira vez na semana. Chora. Elas são assim, exatamente tudo aquilo que eu não quero ser.


Feministas, perdão. Mas vim ao mundo para parir. E ao meu modo, não ao modo da mulher independente. Não pretendo fazer inseminação artificial ou dar uma trepada sem compromisso para ter filho sozinha e deixá-lo ser criado por babá. Quero um homem, do meu lado, que chore quando ver o primeiro ultrassom. Quero levar meu filho na escola e segurar na sua mãozinha quando escrever as primeiras palavras. Quero participar das reuniões de pais e adquirir olheiras de noites mal dormidas. Não consigo imaginar felicidade dentro de um apartamento superbem localizado, superbem decorado, e vazio. A felicidade pra mim está na casa com criança, cachorro e marido fazendo bagunça. Gosto de imaginar marca de mãozinha na parede e toalha molhada jogada na cama. Loucura? Chamem do quiser. Eu chamo de necessidade. Necessidade de afeto, de segurança, de amor. Eu sou mulher, me sinto frágil, tenho medo da solidão. Mas sou forte o bastante para bancar as minhas necessidades.

Fraqueza é dar uma de durona e chorar sozinha à noite.


Fernanda, madrinha de Jujú e Claudio e solteira por opção...dos homens.

4 comentários:

  1. Nao falei que ela era o máximo?

    Amei o texto e vc sabe bem que sempre concordamos nisso também! E já até consigo imaginar o cara legal que Deus guardou pra vc realizar todas essas necessidades, que também acho serem básicas!

    Beijos

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  2. Simplesmente bárbaro. É muito bom ser independente e livre para ir e vir... até me sinto realizada por ter o meu trabalho e se quiser comprar um par de meias, eu compro sem ter que dar satisfações a ninguem. Mas nada disso valeria se eu não tivesse o simples abraço e sorriso quando chego em casa. Enfim, nós mulheres até podemos ser independentes mas NUNCA seremos auto-suficientes.

    E pra você, Ferdi, tenho a mais absoluta certeza de que Deus colocará em seu caminho alguem especial pq vc é especial. E não merece qualquer coisa, hehehehe.... :o)


    Bjoks!
    ;-*

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  3. Adorei o texto e acho que é uma verdade, sim. Mas me reviro aqui tentando achar um tanto de Amélia em mim... tem não! Você roubou a minha parte, Ferdi! rsssssss....

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  4. Primeiro de tudo, que idéia legal, Juju! Segundo, ótimo texto, Ferdi. Delícia de ler como são suas escritas Mas, olha, bom não generalizar, nem toda mulher que não deseja, digamos, ser amélia, é uma recalcada. Nem toda feminista é só esse estereótipo de "abaixo os homens", o buraco, ou melhor, a causa é bem mais em baixo. Eu por exemplo que não sou feminista de carterinha, nem tenho nada contra a pessoa ser amélia, não me vejo casando, assim na Igreja, tudo bonitinho. Encontrar alguém pra dividir uma vida (de preferência que saiba cozinhar, pq eu não sei), sim, acho ótimo, mas não pode também ser qualquer cara, se for que só atrase a minha vida, deixa quieto. E olha que eu acredito em amor, então, espero encontrar o amor da minha vida para gente poder construir uma vida. Agora, filhos, é uma coisa que quero muito, seja de que maneira for, natural, adoção, inseminação, uma trepada casual, uma relação consolidada, whatever, quero ter minhas crias, ser mãe, com todas as letras, padecendo no paraíso dia após dia e rindo disso. Formar uma família, isso é que eu realmente quero.

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